Os números são "absurdos". O carinho é "enorme". E o balanço da carreira na Turquia é "pra lá de positivo". Em sete temporadas, são dez titulos, 121 gols e 100 assistências, em 206 partidas. "Mais turco" do que muitos locais que defendem no Fernabahçe, por tudo o que já fez pelo clube, Alex é um exemplo de sucesso brasileiro na Europa e um símbolo da popularização do futebol turco no Brasil. Deixando saudades nas torcidas de Coritiba, Palmeiras, Cruzeiro e Flamengo, o craque se encontrou no Velho Continente e está próximo de fazer história mais uma vez.
No próximo domingo, o Fenerbahçe enfrenta o Sivasspor, fora de casa, e se vencer conquista o título da Superliga Turca pela 18ª vez em sua história. Para Alex, que marcou cinco gols na goleada da equipe no último domingo(assista a dois golaços do jogador), seria o terceiro título do torneio e 11º em sua carreira no clube, com marcas individuais a serem ressaltadas. Com 27 gols e 14 assistências em 32 jogos, ele tem seus melhores números desde 2004-05, quando foi treinador por Zico e também terminou o ano como campeão, artilheiro e melhor passador.
Apesar de tanto sucesso, Alex é humilde. Ele não se considera ídolo. Nem na Turquia, nem no Brasil. Mas agradece o carinho e o reconhecimento e diz ter muito respeito por todos os clubes que defendeu. O camisa 10 do Fenerbahçe tem no Flamengo a "grande tristeza" da carreira, por não ter demonstrado seu futebol vestindo a camisa rubro-negra, mas considera que tem mais boas histórias do que ruim para contar nestes 33 anos de idade. Em entrevista por telefone ao GLOBOESPORTE.COM, o jogador fez um balanço da carreira e festejou o grande momento.
- Fico muito feliz pelo meu atual momento e estou muito ansioso para buscar mais este título. Tenho consciência da minha importância para o clube e para a torcida, mas não posso me considerar um ídolo. Nem na Turquia, nem no Brasil. Sou um jogador respeitado e que procura sempre fazer o melhor pelo seu clube, mas ídolo não. Agradeço ao carinho enorme que recebo dos torcedores aqui e também das equipes por onde passei e isso é uma das melhores coisas da minha carreira - afirmou o apoiador.
GLOBOESPORTE.COM: Você está chegando ao final de mais um ano na Turquia. Já são sete agora, com dez títulos, podendo chegar a onze. Você esperava tanto sucesso e qual o balanço que faz destes números impressionantes?
Alex: O balanço é pra lá de positivo. Não tem como ser diferente. No próximo dia 31 de maio, domingo, eu completo minha sétima temporada aqui. São números absurdos, relativamente grandes, com estatísticas valiosas e fico muito feliz por isso. Sinceramente, não esperava tanto, porque cheguei aqui ainda sem conhecer muita coisa. Era um país desconhecido, com uma cultura muito diferente, mas consegui me adaptar bem, me tornei querido por sempre fazer o que me foi pedido e acho que isso ajuda. Tenho um reconhecimento muito grande aqui e, com certeza, isso me faz tentar sempre render o meu melhor.
Com o Alex no Fenerbahçe, o clube, e o futebol turco em geral, passaram a ter uma visibilidade muito maior no Brasil e hoje é possível até ver pessoas nas ruas com a camisa do Fener com o seu nome. Você se considera um dos responsáveis pela popularização do clube?
Eu acho isso muito legal, porque a valorização maior sempre foi maior em cima do Galatasaray, porque tinha o Taffarel e o Jardel. Mas aí comigo e com alguns outros brasileiros vindo para o Fener, o clube acabou se popularizando no Brasil. Logo depois de mim, veio o Zico para ser o treinador, vieram também o Roberto Carlos, o Deivid, o Maldonado, o Lugano, o Fábio Luciano... Todos grandes jogadores, com moral no Brasil e com muito carinho dos torcedores, que passaram a querer acompanhá-los também longe. Fico feliz por ter ajudado nisso e por saber que hoje em dia há torcedores vestindo a camisa do Fener, com o meu nome, no Brasil.
Já são mais de 20 títulos, quase 900 jogos e quase 400 gols na carreira. Você ainda sente aquele frio na barriga antes de uma decisão, como a do próximo domingo?
É claro que sinto. Estava até conversando com os amigos aqui. Parece que, depois que o tempo passou, a ansiedade aumentou (risos). Hoje tenho mais experiência, mas a tensão ainda é grande, ainda mais em uma temporada tão difícil como foi a atual para a nossa equipe. Estou muito ansioso para o jogo e para buscar essa conquista.
O Fenerbahçe deu uma arrancada incrível no segundo turno do campeonato e agora só depende de si para ser campeão. Como você avalia essa temporada até agora?
Nós corremos atrás dos caras o tempo todo nesse ano. Tivemos que tirar o prejuízo e só conseguimos alcançar o Trabzonspor faz duas rodadas, mas agora só dependemos de nós. Entramos no returno do campeonato a nove pontos deles, em quarto lugar. Fizemos um primeiro turno muito irregular, tivemos alguns problemas, mas tivemos uma pausa fundamental no Natal e no Ano Novo. O treinador nos deu uma semana de folga, todos descansaram e na volta, para a intertemporada, conversamos bastante, acertamos algumas arestas e nos acertamos. Foi, realmente, uma arrancada espetacular.
E o sucesso do time passa também pelo seu sucesso. Você assumiu um papel de artilheiro no Fenerbahçe e nesse ano é o goleador da temporada, com 27 gols em 32 partidas. A que você atribui esses números?
Eu comecei a fazer muitos gols no Cruzeiro, já em 2003, quando fiz 23 gols no Campeonato Brasileiro, e acho que 40 no ano. Desde então, venho tentando manter a média (risos). Mas, neste ano, estou realmente com números muito bons. A média aumentou bastante. Joguei 32 partidas e fiz 27 gols. É uma coisa muito legal para mim. Sempre fiz gols, mas nunca com uma regularidade tão grande e fico feliz. Aqui cobro muitas faltas e pênaltis, treino bastante isso, e jogo como meia, mas sempre avançando bastante para finalizar.
No último jogo, você conseguiu a marca impressionante de marcar cinco gols, e pela segunda vez na carreira, um feito que muitos centroavantes nem sonham em alcançar. Como foi esse momento?
É engraçado, porque teve até um jogador do meu time que brincou comigo justamente sobre isso. Ele falou que joga futebol há 15 anos e tem sete ou oito gols na carreira, enquanto eu fiz cinco em um jogo só. Foi uma situação atípica, assim como na primeira vez, quando marquei contra o Bahia. Naquele jogo, eles já estavam rebaixados, desestruturados, e cometeram quatro penalidades. Fiz todas e consegui marcar mais um no segundo tempo, com a bola rolando. Já neste, aqui pelo Fener, o Ankar também não queria mais nada no campeonato, mas fiz só três de pênalti. Um foi de falta e o outro, modéstia a parte, foi muito bonito, no último minuto. Sem dúvidas, foi um jogo inesquecível.
Foram três gols em cobranças de pênalti. Como um jogador se prepara para bater três pênaltis no mesmo jogo? Muda o canto, bate sempre no mesmo...?
É uma situação bem difícil, porque você não sabe mais como superar o goleiro (risos). Eu lembro que, neste jogo do Cruzeiro, contra o Bahia, eu mudei os cantos. No domingo passado, não. Bati os três no mesmo canto, bem parecido mesmo, porque fiquei observando o goleiro e achei que, se eu mudasse, ele poderia defender. Mas é complicado, porque a obrigação é 100% de quem bate e isso a cada cobrança aumenta. Sinceramente, para mim esta estatística vale mais até que os gols. Até porque a minha primeira função é servir os atacantes. Fico muito feliz em ajudar os companheiros a marcarem os gols. Fico satisfeito. Sou o líder em assistências do campeonato e, quem vem atrás de mim, tem quatro ou cinco passes a menos do que eu, então faltando apenas uma rodada, acredito que devo conquistar esse prêmio também.Além deste lado artilheiro, você está sendo o garçom de sempre no Fenerbahçe. São 14 assistências no Campeonato Turco também. É um outro número para se orgulhar?
Melhor passador, artilheiro e campeão. É uma temporada impressionante. Já aconteceu alguma outra vez na sua carreira?
É a segunda vez. Na primeira temporada do Zico, em 2004-05, também fui artilheiro, líder em assistências e campeão. É uma sensação incrível, porque você sabe que foi bem individualmente e também ajudou a sua equipe a conquistar o título, o que é o mais importante. Tomara que isso se repita agora.
Os torcedores do Brasil vêem seu sucesso na Turquia e sentem saudades de você por aqui. Há alguma chance de você retornar em breve?
Eu acabei de renovar contrato aqui, tenho mais três anos de vínculo com o Fenerbahçe e não penso nisso agora. Não acho que seria justo. Claro que bate uma saudade, mas não passa disso. Sempre penso no Brasil, ainda mais quando assisto aos jogos das equipes brasileiras e vejo meus amigos, mas não penso em voltar agora. Neste ano, estou acompanhando todos os regionais que passam na televisão aqui. É sempre um sentimento especial quando você vê uma torcida que gosta, um ex-companheiro, um ex-clube vencendo, mas é só isso.
Você iniciou sua carreira no Coritiba e, como falou, é considerado um ídolo mesmo sem ter disputado muitas temporadas como profissional. Quais lembranças que você tem do clube?
Sinto um carinho muito grande pelo Coritiba. Vivi uma vida lá, desde pequeno até sair para o Palmeiras. Fico feliz por ter ajudado de alguma forma, pois conseguimos o objetivo de voltar à primeira divisão, mas foi pouco perto da grandeza do clube, até porque joguei apenas dois anos como profissional do Coxa.
Sua consagração no Brasil foi pelo Palmeiras, onde conquistou, entre outros títulos, a Libertadores. Foi um dos seus melhores momentos como jogador?
Foram quatro anos no Palmeiras e tive a felicidade de participar de uma geração espetacular, que foi montada para brigar por títulos e conseguiu alcançar seu grande objetivo, que era a conquista da Taça Libertadores. Foi inesquecível aquela vitória e um dos títulos mais importantes da minha carreira. Sem dúvidas era um grande time e foi uma época muito especial para mim, até pelo respeito que a torcida tem por mim até hoje. O Palmeiras me acolheu muito bem, conquistei muitos títulos e me lembro com muito carinho do clube.
Depois de tanto tempo e tanto sucesso, você se considera um dos grandes ídolos da história do Fenerbahçe?
Eu tenho muita conscieêcia do que represento, mas nunca busquei ser ídolo em lugar nenhum. Em Coritiba mesmo, muita gente diz que sou ídolo, mas não me considero. Não fiz muita coisa pelo clube. No Palmeiras e no Cruzeiro, foi diferente. Consegui títulos, gols e o carinho da torcida, mas também não posso me considerar um ídolo. Aqui no Fenerbahçe é a mesma coisa. Fico bastante satisfeito com o reconhecimento e sei que as pessoas vão me receber sempre muito bem aqui, mesmo depois que eu encerrar a carreira ou que eu sair daqui. Mas ídolo é uma palavra muito forte. Sei que sou muito respeitado, por tudo o que fiz e pelo comportamento que tenho aqui e o mais importante é isso: saber que gostam de mim não só como atleta, como também como ser humano. Seja aqui ou no Brasil.
Podemos dizer que você se encontrou, de vez, na Turquia?
Estou totalmente adaptado e muito feliz aqui. Vim em 2004 para ficar três temporadas, aí renovei por mais duas. Depois, mais duas, e agora, até 2013. Quando esse novo vínculo acabar, serão nove temporadas. Fico muito feliz por ter me dado bem aqui e estar até hoje defendendo o Fener. É raro ver um jogador em um clube por tanto tempo no futebol de hoje, mas sempre fui assim. Sempre procurei me firmar e me adaptar aos lugares onde joguei. Claro que aqui eu extrapolei e posso dizer até que sou mais turco do que muitos que nasceram aqui e vieram jogar no clube agora, porque tenho muito tempo de casa.
No Cruzeiro, você fez história ao conquistar a Tríplice Coroa na temporada 2003. Foi o seu melhor ano?
Aquele ano de 2003 foi um grande ano. Conseguimos um recorde no futebol brasileiro. Até hoje nenhuma equipe conquistou o Regional, a Copa do Brasil e o Brasileiro no mesmo ano e fico muito feliz por ter feito parte disso. Era uma grande equipe, que foi muito vitoriosa e que até hoje ainda é lembrada também pelos torcedores por tudo o que fez. Não sei se foi a melhor temporada, mas com certeza foi muito boa, até pelos números individuais também, porque marquei muitos gols.
E a passagem pelo Flamengo, Alex? Foi uma decepção?
Sempre que me perguntam sobre alguma tristeza na minha carreira, digo que foi não ter dado certo no Flamengo. Infelizmente, era um momento ruim do clube e uma fase péssima minha. Simplesmente, não aconteceu. Fico chateado, porque é um grande clube, com uma torcida maravilhosa e que também sempre me mandou muitas mensagens de apoio, até depois de eu ter deixado o clube, e alguns até pedem para que eu volte em breve (risos).
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