O roteiro tinha tudo para ser perfeito. Voo fretado de ida e volta, sem escalas, para o Paraguai, almoço na melhor churrascaria de Assunção, translado completo de ônibus e ingresso para a partida contra o Libertad, no Estádio Defensores de Chaco, pelas oitavas de final da Libertadores. Depois da vitória por 3 a 1 no Engenhão, o Fluminense podia até perder por um gol de diferença na capital paraguaia que mesmo assim garantiria sua classificação para a próxima fase. A derrota por 3 a 0, no entanto, levou a caravana tricolor da euforia à decepção em poucas horas.
A saída do estádio, devagar e por uma pequena porta, representava bem o sentimento dos torcedores. Todos queriam sair dali rapidamente, mas não era possível. Além de esperar cerca de meia hora após o apito final para deixar o Defensores del Chaco em direção ao ônibus, ainda restavam mais duas horas e meia de voo para o Brasil. Ídolo tricolor, Romerito esteve sempre presente e assistiu à partida no meio da torcida ao lado de seu filho Julio Cesar. Mesmo permanecendo no Paraguai, ele fez questão de ir até o aeroporto se despedir de todos. E ainda usou sua influência para entrar na área de embarque mesmo sem ter passagem e ainda abrir o Free Shop, que não costuma funcionar durante a madrugada.
- Estarei ao lado do Fluminense nos momentos bons e ruins. A ação de marketing foi maravilhosa. Pena que o resultado da partida destoou. O time jogou muito atrás. O erro do goleiro no primeiro gol deu força aos paraguaios. E logo depois o Fred ainda perdeu um gol que poderia ser decisivo. Jogamos muito recuados e fomos castigados. Agora só volto daqui a um mês para o Brasil. Não quero ouvir as provocações dos rivais. Aqui quase ninguém torce para o Libertad mesmo... - disse o ex-jogador, sem perder o bom humor mesmo após a eliminação e uma verdadeira maratona de fotos e autógrafos.
Os gritos de alegria e ansiedade que marcaram a chegada ao Paraguai acabaram substituídos por rostos cansados e abatidos. Tudo bem diferente do dia passado em Assunção. Na hora de decolar, os tricolores encontraram uma aeronave personalizada e com uma tripulação composta apenas por torcedores do Fluminense. Em meio a muita cantoria, o departamento de marketing do clube realizou um quiz e distribuiu brindes a quem acertava as respostas de perguntas sobre a época em que Romerito jogava nas Laranjeiras, na década de 80. Além do ídolo, o presidente Peter Siemsen também estava presente.
Após a aterrissagem, os 110 torcedores que adquiriram os pacotes de mais uma ação do projeto "Tricolor em Toda Terra" foram levados a quatro ônibus. Cada um deles era denominado pelo nome dos quatro únicos paraguaios que vestiram a camisa tricolor: Romerito, Victor Gonzalez, Telesca e Estigarribia. O primeiro destino foi a churrascaria Aquarela, que foi parcialmente fechada para receber a caravana. Dois telões mostravam gols e partidas importantes de Romerito pelo Tricolor. Sempre o centro das atenções, o ex-jogador conseguiu por alguns minutos se isolar do assédio dos fãs e, em um momento de nostalgia, ficou observando sozinho aos lances que eram exibidos nos telões.
A chegada ao Defensores del Chaco foi tranquila. A pouca presença de torcedores do Libertad-PAR nas imediações do estádio ajudou a evitar confusões. Em um bar em frente à entrada da torcida visitante, um paraguaio chamou a atenção. Com muita animação, o garçom Rodrigo Rios cantava as músicas de exaltação ao Fluminense junto com a torcida e divertia os tricolores. Por seus dentes avantajados, foi chamado de Ronaldinho Gaúcho tricolor.
- Sou torcedor do Olimpia-PAR, mas gosto muito do futebol brasileiro e vou torcer pelo Fluminense - disse ele, apesar da bandeira do Libertad que levava nas mãos.
Principal momento de um dia que se desenhava perfeito, o jogo acabou sendo o ponto fora da curva. Na arquibancada, uma faixa era exibida com os seguintes dizeres: "Ratos correm, guerreiros lutam". E uma barreira de policiais fazia a proteção dos brasileiros, mesmo que o estádio estivesse bem vazio. Mas em campo, o que se viu foi bem diferente. Apático, o Tricolor irritou seus torcedores. Fred, pela atuação apagada, e Ricardo Berna, que falhou no primeiro gol do time paraguaio, eram os principais alvos das reclamações. A decepção pela eliminação pode ser medida pela animação dos tricolores no fim da viagem. De volta ao aeroporto, muitos dormiram à espera do voo. Outros acompanhavam pela TV a reprise do jogo entre Cruzeiro e Once Caldas-COL. Quando os gols do Libertad-PAR eram mostrados, as críticas voltavam.
Incansável, Romerito seguia seu papel de anfitrião. Já perto das três da manhã, ainda distribuía autógrafos como se fosse o primeiro. De quebra, mandou abrir o Free Shop local para os brasileiros e, mesmo sem passagem, adentrou a área de embarque e ficou na porta do avião dando tchau a cada torcedor que passava. Dentro do avião, silêncio quase total. O único grito de "Nense" se deu na aterrissagem.
- O projeto foi um sucesso. Tudo funcionou bem e o preço foi adequado. Percebi que essa viagem mexeu com os torcedores. Tendemos a repetir e aprimorar assim que possível. O Fluminense está cada vez mais conhecido fora do Brasil e o marketing tricolor soube aproveitar mais essa participação na Libertadores. Pena que no aspecto técnico a equipe não correspondeu - avaliou Idel Halfen, vice presidente de marketing do Flu.
Fora de campo, a logística do departamento de marketing tricolor funcionou sem problemas. Só faltou combinar com o time para fazer da viagem uma data inesquecível para os tricolores em toda terra.
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