Há um ano você se sentiu obrigado a voltar para a Itália?
Não, acho que era uma forma de pedir desculpas pelas coisas que eu fiz de errado lá, não fujo do que fiz, nunca menti pra ninguém, acho que a verdade antes ou depois vem. Voltei para lá para mostrar isso, tanto que depois que eu saí de lá, quando assumi minha liberação, fiz a entrevista pedindo desculpa. Dessa vez eu estava presente, discuti tanto que o meu empresário na época (Gilmar Rinaldi, com quem Adriano rompeu antes de fechar com o Corinthians) não sabia de nada e não quis que ele ficasse sabendo. Falei como homem: tenho que ir lá resolver, não os outros por mim.
Foi publicado que você recebeu por esses oito meses cumpridos mais ou menos o equivalente a R$ 6 milhões. Se você não tivesse recebido tanto dinheiro assim, acha que já teria rescindido contrato antes disso ou não?
Não fiquei para ganhar o dinheiro. Na verdade, a multa ia ser muito maior para eles porque quando eu pedi, eles falaram: temos que conversar porque não podemos perder esse dinheiro todo. Eu falei: eu também estou querendo ir embora, vemos o melhor para o clube e para mim também. Nunca agi com eles de maneira errada, não fui lá para ganhar dinheiro, graças a Deus hoje sou uma pessoa bem sucedida. Eu não gosto muito de falar em quantidade, não sou assim, se fosse não saía do Inter de Milão onde ganhava R$ 14 milhões por ano. E larguei mão de tudo para voltar ao Brasil e ficar perto da família, cheguei até a falar que ia parar de jogar. Não sou nenhum maluco.
E os problemas de contusão? Eles foram resolvidos já? Hoje está tudo em cima?
Só o ombro que ainda estou recuperando um pouquinho, estou fazendo fisioterapia ainda. Daqui a um mês mais ou menos estou legal para fazer atividade.
E o peso, está ok?
Não, não está. Mas eu não esquento. Todo mundo fala um monte de coisa. Ah, você está gordo, mas é normal, eu estou parado já há quase três meses, e o ombro impede de fazer muita coisa. No começo eu operei e fiquei um mês parado porque não poderia fazer nenhum trabalho físico. Não vou mentir e falar que estou no peso. Daqui a pouco vou começar a correr e com certeza vou perder.
Por que parece ser mais difícil para você do que é para os outros jogadores brasileiros viver longe do país, ficar longe da família? Já parou para pensar nisso?
Já. É porque os outros jogadores tem a família perto, são casados e eu nunca me casei. Acho que isso foi uma grande decepção que eu tive. Nunca pude casar com uma pessoa e viver fora. Isso querendo ou não te ajuda muito. Não que a mãe do meus filhos não seja a pessoa certa, mas infelizmente não deu certo. Somos super amigos. Acho que o que eu mais sofri é que chegava em casa e queria ter uma mulher ao lado, às vezes chegava nervoso e não tinha ninguém pra conversar, é difícil.
Você acha que de repente não estava maduro ainda pra ter um relacionamento mais firme?
Eu vou fazer 30 (em 17 de fevereiro de 2012), acho que tem que dar uma tranquilizada, mas hoje estou muito mais tranquilo e esperando essa oportunidade de encontrar alguém para que eu possa dar continuidade até no Corinthians, né?
Dá para dizer que aos 29 anos a sua carreira internacional está encerrada?
Está. Hoje eu não saio do meu país mais não. Foram dez anos que eu fiquei na Europa. Tive proposta pra voltar (da Inglaterra) e falei não, pelo amor de Deus, não aguento mais. Deixa eu aqui no meu país mesmo. Hoje eu te dou a resposta certa: não volto mais, não.
Com quem você desabafava?
Com meu primo Rafael, que sempre me acompanhou lá fora e com um amigo também. Mas mulher é diferente, não é o mesmo que uma amizade. Óbvio que eles sempre me ajudaram, mas não é a mesma coisa. Todo mundo fala: Adriano é mulherengo, mas na época eu não conseguia achar a pessoa certa e espero achar.
Um namoro que você teve direito a tapas e beijos acabou?
Sim, nós terminamos, mas temos amizade e carinho até hoje. Ela (a personal trainer Joanna Machado) foi uma pessoa maravilhosa na minha vida, sempre tentou me ajudar muito. Éramos muito ciumentos. Hoje estou muito mais maduro, não quero mais confusão na minha vida pessoal.
E como é que está a vida amorosa?
Estou solteiro, mas já inventaram aí que estou namorando. Às vezes não podemos ter amizade, sair pra jantar com uma amiga que já falam que é namorada. Já botaram namorada não sei o quê, nova imperatriz. Tudo que eu faço parece que eu matei alguém. Estou acostumado.
O que te levou a aceitar a proposta do Corinthians?
Na verdade eu vou assinar ainda amanhã (segunda), espero. Mas estou muito feliz porque sei como os torcedores são fanáticos. Muitos falaram: Adriano você está maluco de ir pra lá, e os torcedores? Eu sou grande, as minhas costas são grandes, e Deus dá corpo grande para aqueles que conseguem carregar um pouquinho de peso, né? E isso nunca vai me abalar. Estou indo pro Corinthians de coração, quero conquistar o coração dos corintianos. O Ronaldo me ajudou muito e disse: vamos para lá que você vai gostar. Estou seguindo os passos dele que é um jogador e uma pessoa pra mim muito importante, sempre me deu conselhos. Realmente ele está me ajudando muito, e eu estou querendo voltar a jogar, não aguento mais ficar parado. Minha mãe até falou que eu tinha que ir pra igreja. Deus sabe de tudo, se hoje eu estou no Corinthians e vou assinar amanhã é porque Deus está tomando o caminho.
Acha que vai conseguir corresponder à expectativa da torcida?
Não sou muito de prometer, mas posso garantir dedicação. Não sou uma pessoa que corro da briga, adoro quando as pessoas ficam falando mal de mim. Gosto porque depois tem um gostinho maravilhoso. Eu já escutei muitas coisas: que sou vagabundo, que não presto, que não vai adiantar. Eu adoro isso. No fim tem um gostinho diferente.
Algumas pessoas falam 'o Adriano vai jogar um jogo e ficar três, quatro fora'. O que você tem a falar para essas pessoas?
Qual o clube que eu passei além do Roma, quando me contundi, que não joguei? Em todos os times joguei todos os jogos. Até o Muricy estava falando que é muito fácil falar de mim, mas as pessoas não me conhecem. Fico depois do treino e ninguém fala nisso. O Muricy falou: ele é guerreiro. Tenho uma força de vontade muito grande. Quem trabalhou comigo sabe do que eu sou capaz. Isso aumenta minha vontade de mostrar que não tem nada a ver. O Corinthians não vai se arrepender.
Não vai atrasar nos treinos? A vida noturna de São Paulo é animada...
Vou fazer o possível (risos). Eu vou assinar um contrato. Se eu faltar treino, se chegar atrasado, não vai ter isso, não vai ter aquilo. A responsabilidade é minha, assino, não tem problema. Esse é um compromisso que eu tenho que ter comigo mesmo.
Acha que vai ser recebido da mesma forma que o Fenômeno foi?
Acho que não, porque Ronaldo é Ronaldo. Espero ser bem recebido, acho que os torcedores sabem da minha capacidade, e eu espero que os torcedores tenham carinho por mim. Com certeza eu vou retribuir dentro de campo, porque a única resposta que eu tenho que dar é dentro de campo.
Como é que você está se sentindo hoje? Está se sentindo desafiado?
Desafiado eu sou sempre, pelas pessoas que falam de mim. Mas eu estou nervoso mais para ver realmente como é que é, sentir esse calor do Corinthians. Ansioso pra começar a treinar e poder entrar em campo e fazer gol. Fiquei um ano, nunca fiquei um ano sem fazer gol na minha vida (o último gol em jogos oficiais de Adriano foi no dia 20 de maio, nas quartas de final da Libertadores contra o Universidad de Chile).
Ficou triste de não ter recebido uma proposta do Flamengo?
Fiquei um pouquinho, não tem como não ficar. O Flamengo é um clube que eu sempre dei a prioridade. Quando cheguei falei: quero voltar ao Flamengo. Mas isso não aconteceu. Respeito a decisão do Flamengo. Tenho um carinho dos torcedores muito grande por mim.Sempre que eu estava vendo jogos eles gritavam meu nome. Triste fico com certeza, por tudo que eu fiz pelo Flamengo, e até pelo que o Flamengo fez por mim. Agora já era. Tenho que me dedicar ao Corinthians.
Sua carreira teve altos e baixos. Nos últimos anos sua vida foi mais ou menos tumultuada. Por que você acha que isso estava acontecendo?
Começou a ter muita complicação quando eu comecei a ter depressão, que aí eu fiz muita coisa errada. Veja bem: coisa errada não é usar droga. Realmente eu tive um problema de álcool, lembra que a gente conversou sobre isso? Logo depois quando meu pai morreu minha vida deu uma balançada. Tenho facilidade para ficar deprimido. De repente porque eu guardo muito as coisas para mim. Preciso de uma pessoa que esteja comigo para botar tudo pra fora. Cheguei a tomar remédio no Inter, o psicólogo passava para mim. Mas eu estava muito mal. Nunca imaginava perder meu pai, ele morreu com 44 anos.
Uma vez, numa entrevista bem franca que você me deu, mais ou menos há um ano e meio atrás, você falou que bebia mais ou menos três vezes por semana. Como é que sua relação com a bebida?
Saio pra almoçar ou pra jantar, tomo minha cervejinha com meus amigos normalmente. Mas não é uma coisa para se dizer exagero. Aquela época de exagero passou.
O que aconteceu em fevereiro desse ano numa blitz da lei seca aqui no Rio de Janeiro?
Vou explicar. Eu não quis fazer o bafômetro. Estava com o Rappa, no estúdio dele. Bebi umas cinco, seis cervejas. E depois fui para casa, era meia-noite. O rapaz falou: você vai querer fazer? Eu falei: não vou fazer. Não sou obrigado (risos).
Qual é o seu grande sonho profissional?
Jogar de novo a Copa do Mundo, aqui no Brasil. Perdi uma e eu quero voltar à Seleção. Me vejo jogando pelo Brasil. Tenho consciência que hoje tenho condições ainda de jogar.
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