A sociedade brasileira perdeu, na terça-feira, dia 29 de março, um dos maiores expoentes da política nacional: José Alencar, de 79 anos. O ex-vice-presidente, depois de anos de batalha contra um câncer no abdômen, morreu após falência múltipla de órgãos. Alencar deixou órfã uma multidão de admiradores por todo o Brasil e, principalmente, em Muriaé. A cidade da Zona da Mata de Minas Gerais, distante 280 quilômetros da capital Belo Horizonte, cativou o político, além de abrigar um dos maiores amores de José Alencar: o Nacional.
Não houve uma única vez em que, perguntado sobre qual seria o time de futebol do coração, o ex-vice-presidente não mencionasse com orgulho o sentimento de amor ao Nacional, de Muriaé. O clube, praticamente esquecido no cenário esportivo do estado, tem apenas um título mineiro da segunda divisão, conquistado em 1969. Porém, nem por isso, José Alencar deixava de expressar toda a admiração, carinho e amor pelas cores do Nacional.
E agora esse amor deverá ser a mola propulsora capaz de realizar o sonho da modesta equipe mineira de voltar à elite do futebol estadual. Em dezembro de 2009, já como vice-presidente da República, José Alencar encaminhou uma carta ao ministro dos esportes, Orlando Silva, solicitando ajuda financeira para o término da construção do novo estádio do Nacional e também do centro de treinamentos para profissionais e categorias de base.
O conteúdo da carta mostrava o carinho e a atenção à região onde nasceu.
‘Senhor Ministro,
com cordial visita, repasso à alta consideração de Vossa Excelência o pleito anexo do eminente Prefeito José Braz, de Muriaé (MG), minha cidade natal.
O Nacional Atlético Clube tem longa tradição no cenário esportivo de Minas Gerais, sendo motivo de orgulho para os moradores da cidade e da região. A atual diretoria, liderada pelo Doutor Rui Vale de Matos, se propõe a recuperar a imagem do Nacional, transformando-o em uma grande agremiação, conforme especificado no projeto anexo. Penso que o atendimento a esse anseio, além do aspecto esportivo, terá valiosa repercussão no campo social, ao contemplar os jovens da cidade e da região com a oportunidade de encontrarem novos caminhos de realização através do esporte’.
O clube mineiro requisitou R$ 3 milhões para finalizar as obras no estádio e no centro de treinamentos. Os dirigentes do clube da Zona da Mata ainda esperam pela verba para, além de alcançar o desejo de se tornar de fato um clube de futebol moderno, prestar a última e maior homenagem ao mais ilustre torcedor no Nacional.
- Depois de ações na justiça, conseguimos vender a metade do nosso antigo campo. Muitos queriam vender, mas alguns não, e isso trouxe alguns problemas. Hoje estamos ampliando em muita coisa a estrutura que tínhamos. Se conseguirmos essa verba, vou homenageá-lo, e o estádio se chamará José Alencar – declarou Dornele Francisco Almeida, vice-presidente e diretor de futebol.
O Nacional não disputa a primeira divisão estadual desde 1981. Atualmente, o clube não possui jogadores no quadro de profissionais. As atividades foram provisoriamente encerradas quando a diretoria, presidida por Ruy Valle Mattos, decidiu vender metade do terreno, onde ficava o único campo do clube, para uma rede de supermercados. A equipe não tem lugar para treinar desde 2007, mas o valor da venda foi investido na compra de um terreno de 60.000m² para a construção do eldorado dos dirigentes do clube.
Hino do Nacional
José Alencar se preocupava com o time do coração. Em uma visita a cidade, em 2005, o ex-vice-presidente foi ao encontro de alguns membros do clube e ganhou uma camisa da equipe. Na ocasião, Alencar surpreendeu a todos ao cantar todos os versos do hino do Nacional.
- Vou confessar que nem eu sabia da existência desse hino, até ele cantar. Quando ele cantou para todos que estavam no encontro, ficamos muito surpresos, pois não tínhamos a ideia de como era. Ele mostrou ser Nacional de coração – declarou Jacy de Oliveira Filho, diretor de relações públicas e historiador do clube.
Além de torcedor, José Alencar, por pouco, não deixou seu nome gravado na história do Nacional, porém, como atleta. Aos 14 anos, saiu de Itamuri, onde nasceu, e foi viver em Muriaé, a 17 quilômetros de distância. Ali começou o amor em vermelho, preto e branco.
José Alencar jogou pelos juvenis até os 16 anos, quando conseguiu emprego de balconista de uma loja de tecidos. Depois, mudou-se para Caratinga, quando foi obrigado a abandonar o futebol. Mesmo longe dos gramados, quando era perguntado sobre qualquer assunto relacionado ao futebol, lá estava José Alencar bradando a todos os pulmões o verso do hino: ‘Nacional eu sou do coração, Nacional eu sou até debaixo d’água’.
- Parece que foi ele quem fez o hino, não é? Não duvidaria se ele dissesse que tinha feito. Combinaria muito – brincou Jacy, emocionado.
Tino comercial
Que José Alencar tinha uma grande habilidade nos negócios, não há dúvida. O fato de um simples balconista ter se tornado um dos maiores representantes da indústria têxtil do país apenas resume a brilhante trajetória empresarial.
E a diretoria do Nacional parece que seguiu o exemplo do grande torcedor. Os dirigentes pretendem ampliar os horizontes do clube e voltar a serem conhecidos, dessa vez, pelo futebol e não só por ser o clube do coração de um ex-político ilustre.
Dornele é um dirigente que mostra ter tino para grandes negócios. Foi dele a ideia de vender apenas parte do terreno do antigo campo, no centro de Muriaé, ponto mais valorizado da cidade, e comprar uma área maior, mais barata e um pouco afastada do centro comercial.
- Aquela outra metade do campo que ainda pertence ao clube será a responsável por manter o estádio e o centro de treinamentos. Lá faremos um complexo de espaços comerciais que darão um rendimento de R$ 70 mil mensais.
O dirigente estima que o estádio ficará pronto ao custo de aproximadamente R$ 6 milhões. Porém, se depender dele, o valor pode cair ainda mais.
- Iríamos comprar uma caixa d’água para o CT. Abrimos licitação. O valor era de R$ 52 mil reais. Como tenho uma representação de uma marca que também faz o produto, liguei para a fábrica e pedi a caixa d’água de brinde. Eles me disseram que poderiam fazer por R$ 30 mil. Disse que só tinha R$ 18 mil e, então, fizeram a esse preço para mim. Todo mundo paga R$ 18 no saco de cimento. Mas fui na fábrica e consegui que eles me fizessem a R$ 14.
Dornele até admite uma semelhança no tino comercial com José Alencar.
- Deve ser a água da região.
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