O bonde sem freio saiu da inércia, acelerou e está em vias de descarrilar. A invencibilidade de 18 jogos escora as críticas, mas não sustenta a governabilidade do Flamengo. Diante do risco que se avizinha, o maquinista Vanderlei Luxemburgo resolveu acionar a trava de emergência. Na última quarta-feira, o treinador reuniu o grupo no centro do gramado do Ninho do Urubu, decretou restrições sobre as noitadas, desabafou sobre o caso Adriano e, irritado, fez ameaças.
Este último item referia-se ao sigilo da reunião. Ele avisou que se a imprensa soubesse do que fora tratado no Ninho do Urubu “buscaria o x-9” a qualquer custo. Porém, um dirigente soube da conversa e relatou ao GLOBOESPORTE.COM.
Luxemburgo vê no horizonte as partidas decisivas da Taça Rio. No momento, o time é o quarto colocado no Grupo A, com oito pontos. Outros tropeços colocariam o futuro do treinador e de seu projeto na berlinda. Principalmente porque existe pouco apoio da torcida. As atuações nada convincentes e a postura no caso Adriano implodiram a confiança de parte dos torcedores. No discurso ao elenco, o treinador voltou a mostrar desconforto com o tema Imperador. E alimentou uma crise que ele próprio faz questão de negar, mas não consegue digerir.
- Esses caras (jornalistas) tratam como se o Adriano estivesse no grupo. Eles conseguem colocá-lo no noticiário diariamente. Parece que ele é jogador do Flamengo. Não quero mais ouvir esse nome aqui – determinou.
Retiro em Atibaia
O grande argumento para esnobar o atacante é a nova filosofia, pautada na disciplina. Por isso, mantê-la e respaldá-la virou um esforço diário para a comissão técnica e a diretoria. Fora um atraso ou outro, a assiduidade do elenco é quase de quartel. Mas isso não significa um time de anjinhos. O desempenho dos atletas nas noitadas também é de time invicto. O apelido “bonde sem freio”, aliás, surgiu nas repetidas reuniões dos solteiros do grupo.
O treinador sabe e esticou a corda para segurá-los. Se durante o carnaval Vanderlei marcou treinamentos em horários que permitissem a folia dos comandados, desta vez, a ordem é diferente. Ele pediu de forma enfática e textualmente para que os jogadores “pisassem no freio” e evitassem as noitadas.
Para se certificar de que será atendido, ele planejou um retiro em Atibaia, no interior de São Paulo, na próxima semana. A viagem serviria para tentar melhorar um ambiente confuso. Os jogadores relatam um treinador estressado e temem pelo pior no Brasileiro.
- O esquema de jogo não está funcionando, o time não consegue criar. Se temos dificuldades no Carioca, imagina quando jogarmos o Brasileiro, contra equipes mais fortes? Só que não adianta, ele (Luxemburgo) quer do jeito dele – disse um dos jogadores.
Vanderlei pensa grande. Olha para a invencibilidade e considera que a marca o credencia a sonhar com a repetição de um feito que alcançou no Cruzeiro, em 2003: a tríplice coroa, com as conquistas do Carioca, Copa do Brasil e Brasileiro. Os atletas relatam que há obsessão pelo tema.
Quando demonstrou destempero em uma das entrevistas coletivas no Ninho do Urubu ao se negar a comentar o assunto Adriano, o técnico foi criticado por pessoas próximas à presidente Patrícia Amorim. Vanderlei mudou o tom, mas depois do empate em 3 a 3 com o Madureira no último domingo, quando foi vaiado e ouviu da torcida gritos pelo atacante, ele afirmou que alguns torcedores recebiam uma "graninha" para fazer protestos.
Nesta quinta-feira, durante a entrevista coletiva,Vanderlei fez questão de sorrir, falou sobre as vaias e comentou sobre o mesmo assunto que proíbe os jogadores de falarem: Adriano.
- As vaias pertencem ao futebol. Estou calejado. Quem não estiver preparado para isso, está morto. Um processo momentâneo aconteceu ao Flamengo. Entendemos tudo aquilo (assunto Adriano) que aconteceu. Mas ele já acertou com outro clube. O torcedor pode pensar que perdeu um ídolo, craque, ficou órfão. Não tenho nada que contestar, nem discutir. A torcida é fantástica, maravilhosa.
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