sexta-feira, 1 de abril de 2011

De volta ao departamento médico, Digão busca forças na família

O corte preciso diante do adversário em velocidade faz parte do jogo. E a dor, sentida logo depois, também. Em um primeiro momento, Digão não quis pensar no pior. Imaginou estar sentindo câimbras ao pedir substituição no segundo tempo do empate em 0 a 0 contra o Vasco, no último domingo. Mas a ressonância magnética realizada no dia seguinte trouxe à tona o mais novo problema: um estiramento grau dois na parte posterior da coxa direita. Tempo de recuperação de três a quatro semanas. Um período relativamente curto se comparado a uma grave lesão, por exemplo. Mas longo para quem perdeu praticamente toda a temporada de 2010 por causa de duas fraturas, uma em cada pé, na base do quinto metatarso (osso localizado na parte lateral do pé) e tinha a oportunidade logo no início do ano para tentar se firmar na defesa tricolor (assista ao vídeo ao lado com a entrevista do jogador).
digão fluminense entrevista  (Foto: Edgard Maciel de Sá / Globoesporte.com)

 momento parecia ideal para o filho da dona de casa Sandra e do caminhoneiro Ezequiel. Depois da lesão do companheiro Leandro Euzébio, que realizou uma artroscopia no joelho direito e só volta a treinar no início de maio, o zagueiro seria titular nos jogos que definirão o sucesso ou o fracasso da equipe no primeiro semestre, tanto no Campeonato Carioca quanto na Libertadores. Agora, alia paciência e força de vontade em duas sessões diárias de tratamento e fisioterapia. Aos 22 anos, o menino que sonhava em ser policial do BOPE se apoia nos amigos, na família e, principalmente, na filha que vai nascer no fim de abril para dar mais uma volta por cima.

- Mãe, pai, amigos, esposa, filha que está chegando... Busco sempre força nessas pessoas para seguir em frente. É claro que bate um desânimo, mas não posso desapontar quem sempre acreditou em mim. Fiquei chateado porque era uma boa oportunidade para me firmar na equipe. Mas faz parte do trabalho que eu escolhi. Tenho de erguer a cabeça e seguir em frente. Sei que Deus tem coisas boas guardadas para mim - disse Digão.

Ver um objetivo ser atrapalhado por problemas médicos não é novidade na carreira do zagueiro. Em 2007, Digão ficou fora da Copa São Paulo de Futebol Júnior por causa de uma lesão no púbis. Nunca chegou a disputar a competição. Já nos profissionais, o primeiro problema veio com as duas fraturas nos pés. O martírio começou ainda em novembro de 2009, quando o jogador apareceu para a torcida tricolor como um dos destaques da arrancada que evitou o rebaixamento do Fluminense no Campeonato Brasileiro. A segunda lesão foi em junho do ano seguinte e fez com que o jogador disputasse apenas quatro partidas na campanha do tricampeonato.

- A segunda lesão foi o momento mais difícil. Eu tinha me recuperado bem da primeira e acontece a mesma coisa no outro pé. Eu tinha uma pisada torta e, segundo os médicos do clube, uma hora isso iria acontecer. Agora coloquei o parafuso e me garantiram que não quebra mais. Espero, né? (risos) - explicou ele, que aponta Juan, da Roma-ITA, e Thiago Silva, ex-Fluminense e hoje no Milan-ITA, como seus ídolos no futebol.

Religioso, Digão descarta superstições para fugir do azar que o persegue. Um tio sugeriu até um banho de sal grosso. O zagueiro fugiu. Ao dizer que a fé remove montanhas, deixa claro que não se esqueceu de todo o caminho trilhado desde o início da carreira e que agora é recompensado com o carinho da torcida tricolor.

digão fluminense entrevista ao lado da esposa Tamara (Foto: Arquivo Pessoal)

- Dos que começaram comigo, apenas Fernando Bob e Tartá chegaram aos profissionais. Três representando tantos outros que ficaram pelo caminho. É muito difícil passar por todas as etapas. Quando me lembro disso, o desânimo desaparece. Depois de roer o osso não dá para desistir de aproveitar o filé. Tenho 31 jogos pelo Fluminense e sempre procuro dar meu máximo em campo. Errando ou acertando. Vibro a cada lance porque também sou mais um dos milhões de tricolores - disse tentando justificar de onde vem a identificação com os torcedores.

Dizendo-se mais maduro em sua terceira temporada como profissional, Digão abusa da sinceridade e foge do tradicional clichê comum aos jogadores de futebol ao assumir que a família não torcia pelo Fluminense. Mas o importante é que hoje, pelo menos naquela casa em Duque de Caxias, não entra outra camisa que não a verde, branca e grená. No município em que até a principal escola de samba, a Grande Rio, ostenta praticamente as mesmas cores do Fluminense, o zagueiro finca cada vez mais raízes.

Ao contrário dos companheiros, que em sua maioria escolhem a Barra para morar, ele preferiu comprar seu primeiro apartamento no centro de Caxias, a poucos quilômetros da casa dos pais. No mesmo prédio em que dois amigos que não estão mais nas Laranjeiras, os atacantes Maicon e Alan, também adquiriram imóveis para os familiares, Digão viverá ao lado da esposa Tamara. A mudança será nos próximos dias. Geovanna, a primeira filha do casal, chega no fim de abril. Em homenagem às duas, ele já usa um cordão de ouro com as letras GRT. Mas é dona Sandra a mulher responsável pelas principais palavras de incentivo durante toda a carreira.

digão fluminense entrevista ao lado da mãe (Foto: Edgard Maciel de Sá / Globoesporte.com)
- Ele cresceu, mas não consegue ficar longe de mim (risos). Ainda bem. Digão nunca me deu trabalho. Sempre soube que ele chegaria a seu objetivo que era se tornar um jogador profissional. Mas as dificuldades não acabaram. Essa lesão é só mais uma pedra no caminho - disse a mãe do zagueiro.

Desde pequeno, Rodrigo sempre foi Digão. Do sonho de virar um policial do BOPE, acabou mudando um pouco de rumo e foi parar dentro das quatro linhas. Mas se hoje ele ri e garante que não aguentaria os processos de iniciação da tropa de elite da Polícia Militar, ainda sabe que precisa buscar forças para superar mais uma lesão. Afinal, como muitos craques do esporte já provaram, dar a volta por cima faz parte do jogo.

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