quarta-feira, 13 de abril de 2011

Collaço, o menino gremista que exorcizou a 'assombração' da lateral


bruno colaço grêmio (Foto: Eduardo Cecconi/Globoesporte.com)
Oito anos após deixar o Centro de Treinamento Parque Cristal, Bruno Collaço surpreendeu as crianças que frequentam as escolinhas do Grêmio ao visitar o local onde iniciou sua trajetória no clube.
Hoje titular da equipe treinada por Renato Gaúcho, foi no complexo à beira do Guaíba que o lateral-esquerdo forjou os fundamentos necessários para se tornar um jogador profissional.
Ainda acostumando-se ao assédio, Collaço ingressou no complexo erguido na zona sul de Porto Alegre na tarde de terça-feira.
Com os olhos inquietos parecia buscar maneiras de se tornar invisível às dezenas de garotos uniformizados que em seguida disputariam partidas ambicionando um dia chegar onde ele está.
Mas Collaço, hoje com 21 anos, não consegue mais se camuflar entre gremistas. Poucos segundos bastaram para a primeira voz infantil interromper o silêncio da natureza ribeirinha:
- Olha o Bruno Collaço! - gritou um menino, desencadeando alvoroço e reunindo dezenas à volta do lateral.
Collaço já foi um deles. Natural de São Leopoldo, ele morava na vizinha Sapucaia do Sul quando, aos nove anos, deixou uma escolinha da cidade para fazer teste no CT do Cristal. Gremista desde sempre, pela primeira vez teria contato com a camisa tricolor por um motivo alheio à simples torcida pelo clube do coração.
Bruno Collaço com crianças do Grêmio (Foto: Eduardo Cecconi / GLOBOESPORTE.COM)
- Na época juntou o útil com o agradável. Sempre fui gremista, jogava em uma escolinha de Sapucaia em 1999, e um treinador disse que me traria para fazer teste aqui. Entrei na categoria em 90, e treinei aqui até 2003. No ano seguinte, passamos para os campos de Eldorado do Sul - lembrou, referindo-se ao CT utilizado pelas categorias de base.
Não era fácil concretizar o sonho de se tornar jogador. Collaço enfrentava horas de viagem entre Sapucaia e Porto Alegre, em deslocamentos de trem e ônibus. Nos primeiros meses ainda amparava-se na companhia da mãe, mas depois passou a ir e voltar sozinho:
- Às vezes, os jogos terminavam à noite, e eu precisava atravessar a rua e todo o supermercado para pegar o ônibus lá longe. Depois, ainda tinha o trem.
Empenho, entretanto, nunca faltou para Collaço ultrapassar qualquer dificuldade. Das escolinhas subiu à categoria infantil, depois juvenil, e passou a conviver com as cobranças. O futebol adquiria uma seriedade maior, inserindo um adolescente no ambiente profissional.
- Na escolinha tinha uma cobrança de menor proporção. Quando cheguei ao infantil ficou mais sério, mas cobrança mesmo, por resultados, encontrei na Seleção Brasileira sub-15. Era cobrança ao extremo. Fui titular do time, e conquistamos o título da Copa Mediterrâneo, na Espanha.
Em janeiro de 2008, com Douglas Costa no meio-campo, Collaço disputou a Copa Santiago - tradicional competição de base sediada no Rio Grande do Sul. Dois meses depois, estava entre os juniores, e no segundo semestre de 2009 foi requisitado pelo técnico Paulo Autuori para o grupo profissional.
- Eu ainda não tinha idade, poderia ter ficado mais tempo no júnior, mas o Autuori me viu atuando em coletivos contra os profissionais e me chamou. Joguei bastante com ele, aquele segundo turno inteiro do Brasileirão - disse.
Mas em 2010, o lateral perdeu espaço com Silas, treinador que sucedeu Autuori. Com Fábio Santos no time, e Lúcio no grupo, foi emprestado à Ponte Preta na metade do ano. E pelo time de Campinas atuou em 31 partidas consecutivas. Recebeu honrarias da imprensa, elogiado como o 'melhor lateral-esquerdo da Série B'. A Ponte tentou contratá-lo, mas era a hora de voltar.
Com Renato Gaúcho, Bruno Collaço começa a exorcizar uma recente maldição que se abateu sobre a posição. Fábio Santos era sistematicamente vaiado, desde o anúncio de sua escalação pelo sistema de som do Estádio Olímpico. O mesmo acontece agora com Gilson, concorrente de Collaço pela titularidade na lateral-esquerda.
O menino gremista, criado nas escolinhas do Cristal, no clube desde os nove anos, parece afugentar a assombração.
- Tem que ser assim, comecei aqui desde pequeno sonhando em estar lá no time. Mas eu acho que a torcida me apoia mais por eu ser da casa. Tem os dois lados. A cobrança também é maior por eu ser criado na base, mas o apoio é maior também.

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